12 research outputs found
DA REDUÇÃO DA ALTERIDADE A CONSAGRAÇÃO DA DIFERENÇA: AS IRMANDADES NEGRAS EM PORTUGAL (SÉCULOS XVI-XVIII)
Pouco estudadas, ou consideradas como a prova do humanismo cristão que teria caracterizado a escravidão dos negros na Metrópole, as Irmandades negras constituem um dos melhores analisadores das relações escravagistas e a sua evolução em Portugal, entre a segunda metade século XV e as primeiras décadas do século XIX. Em Lisboa e nas províncias o seu número, a sua localização, as suas características específicas (mistas, "pretas", de "nação" ou de castas), as suas relações com as outras confrarias, os privilégios que obtêm ou não em nome das liberdades, as vacilações ideológicas do poder real e religioso ao seu respeito, a diversidade de estatuto dos seus membros, refletem a dinâmica contraditória de uma instituição que pretende incluir os seus membros numa comunidade espiritual nacional. No entanto, elas participam da consagração das identidades sociais numa diferença de natureza, cuja aplicação da cláusula de limpeza de sangue aos negros e aos seus descendentes exprime a síntese. Incluídos juridicamente, assim como os judeus, os mouros e os índios, entre as nações ultimamente convertidas e as "nações infectas ou reprovadas", até à proibição da cláusula de sangue em 1773, os negros escravos ou libertos, assim como os seus descendentes livres e mestiços, continuam socialmente marcados pelo duplo estigma do estatuto e do fenótipo
Les archives de l’Inquisition Portugaise Sources pour une approche anthropologique et historique de la condition des esclaves d’origenes africaines et de leurs descendants dans la Metropole (XVI-XIXe)
Or, l’appareiljudiciaire Inquisitorial est, on le sait, l’Inquisition le sait, un instrument puissant mis à la disposition des particuliers. Et en parcourant la masse des dénonciations on est conduit à considérer que tout un chacun peut, un jour ou l’autre, s’inscrire dans la listedes accusateurs ou des accusés. Bourreau– par procuration –ou victime et inversement
DA REDUÇÃO DA ALTERIDADE A CONSAGRAÇÃO DA DIFERENÇA: AS IRMANDADES NEGRAS EM PORTUGAL (SÉCULOS XVI-XVIII)
With few studies devoted to or considered as proof of the christian humanism that would have characterized the black slavery in central cities, the black brotherhoods are one of the best analyzers of slavery relations and its development in Portugal during the second half of the fifteenth century and the first decades of the nineteenth century.In Lisbon and at the provinces the brotherhoods number, location, specific character (mixed, "black", "nation" or castes), their relations with other confraternities, the privileges that they get or don't in the name of freedoms, the ideological vacillation of real and religious power to their respect, the diversity of status of its members, reflect the contradictory dynamics of an institution that want to include their members in a national and spiritual community. However, they take part to the social identity consecration in a difference of nature, whose the clause application of blood cleaning to the blacks and their descendants expresses the synthesis. Legally included, as well as the Jews, the Moors and the Indians, among the nations lately converted and the “infected or voted down nations", until the prohibition of the blood purity clause in 1773, the black slaves or the made free, as well as their free and mestizos descendants, remain socially marked by the dual stigma of status and phenotype.Pouco estudadas, ou consideradas como a prova do humanismo cristão que teria caracterizado a escravidão dos negros na Metrópole, as Irmandades negras constituem um dos melhores analisadores das relações escravagistas e a sua evolução em Portugal, entre a segunda metade século XV e as primeiras décadas do século XIX. Em Lisboa e nas províncias o seu número, a sua localização, as suas características específicas (mistas, "pretas", de "nação" ou de castas), as suas relações com as outras confrarias, os privilégios que obtêm ou não em nome das liberdades, as vacilações ideológicas do poder real e religioso ao seu respeito, a diversidade de estatuto dos seus membros, refletem a dinâmica contraditória de uma instituição que pretende incluir os seus membros numa comunidade espiritual nacional. No entanto, elas participam da consagração das identidades sociais numa diferença de natureza, cuja aplicação da cláusula de limpeza de sangue aos negros e aos seus descendentes exprime a síntese. Incluídos juridicamente, assim como os judeus, os mouros e os índios, entre as nações ultimamente convertidas e as "nações infectas ou reprovadas", até à proibição da cláusula de sangue em 1773, os negros escravos ou libertos, assim como os seus descendentes livres e mestiços, continuam socialmente marcados pelo duplo estigma do estatuto e do fenótipo
Aula magistral: frei jaboatão e a exaltação da cor parda na festa do beato gonçalo garcia no recife setecentista
Esclavage, confréries noires, sainteté noire et pureté de sang au Portugal (XVIe-XVIIIe siècles)
Cet article aborde quelques problématiques liées à la question de l’esclavage des Noirs Africains au Portugal, au cours de l’Ancien Régime, à Lisbonne en particulier. Un rapide examen du cadre démographique et juridique, qui détermine l’expansion puis le déclin progressif du nombre d’esclaves et des populations qui en sont issues, introduit l’analyse de l’évolution de l’attitude du pouvoir politique et religieux à l’égard des Confréries religieuses catholiques de Noirs. L’auteur montre que ces institutions d’encadrement idéologique et religieux, instruments d’acculturation et de réduction de l’altérité, initialement et théoriquement destinées à favoriser l’intégration à une communauté spirituelle voire sociale, grâce à certains privilèges, finissent par consacrer progressivement les identités sociales en différence de nature essentialistes dont l’application de la clause de pureté de sang aux noirs et mulâtres libres constitue le meilleur exemple d’ordre institutionnel. Est également analysé l’usage politique et religieux du culte des quatre saints noirs du calendrier romain de l’époque. Este artigo analisa algumas das problemáticas da escravidão dos Africanos negros em Portugal, durante o Antigo Regime, em Lisboa mais especificamente. Um rápido exame do quadro demográfico e jurídico, que determinou a expansão assim como o declínio progressivo do número de escravos e dos seus descendentes livres, introduz a análise sobre a evolução da atitude do poder político e religioso em relação às Irmandades católicas de negros. O autor mostra que essas instituições de enquadramento ideológico e religioso, instrumento de aculturação e redução da alteridade, tendo inicialmente e teoricamente como objectivo a integração numa comunidade espiritual e mesmo social, favorecida por alguns privilégios, acabaram por consagrar paulatinamente as identidades sociais em diferença de carácter essencialista, sendo a aplicação, aos negros e mulatos livres, da cláusula de limpeza de sangue o melhor exemplo na ordem institucional. Analisa-se ainda o uso político e religioso do culto dos quatro santos negros inscritos no calendário romano da época
Inquisição, pacto com o demônio e "magia" africana em Lisboa no século XVIII
No início do século XVIII a escravidão chegou ao seu apogeu em Portugal, especialmente em Lisboa. Até 1761, um milhar de cativos africanos, ou mais talvez, por ano, desembarca no cais da capital. Vêm diretamente da África ou do Brasil onde residiram alguns anos. Começa para eles um longo processo de adaptação, de reconstrução da identidade e do imaginário. Por detrás da fachada das sete confrarias negras, entre as quais duas eram de nações, que apresenta a versão oficial e enquadrada no catolicismo barroco e procura produzir e apresentar negros à alma branca, se esconde uma outra realidade: a persistência das crenças africanas tradicionais, articuladas ou misturadas às tradições populares portuguesas, às quais, respondendo à sua procura de poderes mágicos diferenciais e cumulativos, as populações brancas mostram-se sensíveis. Os processos da Inquisição revelam assim que feiticeiros, mágicos, mandingueiros e curandeiros negros inserem-se, cada um à sua maneira, na cadeia complexa dos agentes legítimos e ilegítimos do sagrado
"África em Portugal": devoções, irmandades e escravidão no Reino de Portugal, século XVIII "Africa in Portugal": slavery, religious devotion and black brotherhoods during the 18
Este artigo discute a história das irmandades que congregaram escravos e libertos africanos e seus descendentes em Portugal, no século XVIII. Para tanto, leva em consideração um panorama mais geral da história e da historiografia da escravidão e da presença africana em Portugal. Busca compreender o contexto de surgimento e as singularidades das irmandades de negros no cenário das confrarias leigas portuguesas. E, finalmente, destaca com especial atenção, a importância destas organizações na configuração da vida comunitária e na defesa dos interesses das populações liberta e escrava.<br>The following article discusses the history of the brotherhoods that brought together slaves and free Africans as well as their descendants in Portugal during the 18th century. In this way, the article considers a more general panorama of the history and the historiography of slavery and the African presence in Portugal. It tries to understand the contextual appearance and the singularities of the black brotherhoods within the setting of the Portuguese lay fraternities. In conclusion it highlights the importance of these organizations in the constitution of community life and in defense of the interests of the black slave and free population in the kingdom of Portugal
