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DINÂMICA DA EXPRESSÃO DE FILAMINA A EM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA: UMA ANÁLISE INTEGRATIVA DE DIFERENTES BASES DE DADOS
Introdução: A filamina A, codificada pelo gene FLNA, é uma proteína de ligação à actina essencial para a integridade estrutural e funcional do citoesqueleto celular. Estudos recentes sugerem que a filamina A está envolvida em várias etapas da progressão do câncer, sendo um marcador e alvo terapêutico em potencial. Embora sua função já tenha sido identificada em diversos tipos de câncer, seu papel específico na Leucemia Mieloide Aguda (LMA) ainda não foi elucidado. Aqui, buscamos investigar, utilizando bancos de dados públicos, se a alta expressão de FLNA pode estar associada com alterações em vias metabólicas e de sinalização em pacientes com LMA. Objetivos: Avaliar a expressão de FLNA nos diferentes subtipos de LMA e descrever as vias biológicas moduladas nas amostras com alta expressão, bem como analisar a composição do microambiente tumoral nesse contexto. Material e métodos: Foram realizadas análises de enriquecimento de vias biológicas utilizando o Gene Set Enrichment Analysis (GSEA) em três bases de dados independentes de LMA: BeatAML, HOVON e TCGA. A expressão de FLNA foi analisada em subtipos citogenéticos de LMA utilizando o banco de dados BloodSpot. Ferramentas de deconvolução, como CIBERSORT, EPIC, xCell, MCP-counter e quanTIseq, foram empregadas para prever a composição celular do TME em amostras com alta expressão de FLNA. Resultados: A análise por GSEA revelou uma associação robusta entre 36 vias biológicas e a alta expressão da FLNA, incluindo assinaturas relacionadas ao rearranjo do gene MLL, ao metabolismo glicolítico, à via RHO e à função lisossomal. Além disso, a expressão de FLNA variou significativamente entre os subtipos citogenéticos da LMA, com alta expressão nos subtipos com rearranjos MLL, sugerindo um papel potencial da FLNA na patogênese desse subtipo específico. Em seguida, não observamos associação entre a FLNA e a sobrevida global dos pacientes, no entanto, observou-se uma tendência de menor sobrevivência em pacientes com alta expressão de FLNA (Log-rank, p = 0,209). Finalmente, a análise do TME indicou que a alta expressão de FLNA está associada com a presença de macrófagos M2 e monócitos, sugerindo que a FLNA pode influenciar o ambiente tumoral, favorecendo a agressividade e a resistência tumoral. Discussão: Os resultados sugerem que a FLNA desempenha papéis distintos em diferentes contextos genéticos da LMA, influenciando a adaptação metabólica e a sinalização celular, possivelmente por meio da sua interação com componentes chaves do citoesqueleto e receptores de superfície. A associação da FLNA com a ativação de vias relacionadas ao metabolismo glicolítico e à sinalização de motilidade celular destaca seu papel na promoção da progressão tumoral. Além disso, a associação com alterações na composição celular do TME sugere que a FLNA pode ser um modulador crítico da interação entre células tumorais e seu microambiente, abrindo novas possibilidades terapêuticas. Conclusão: A variabilidade da expressão de FLNA entre os subtipos de LMA e sua associação com características de agressividade e sobrevida indicam seu potencial como biomarcador e alvo terapêutico na LMA. Estudos futuros são necessários para validar essas descobertas e explorar intervenções que possam modular a expressão de FLNA para influenciar a progressão da LMA ou a resposta ao tratamento
IMPACTO CLÍNICO DA EXPRESSÃO DIFERENCIAL DO GENE METTL16 EM PACIENTES COM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA
Objetivo: Analisar o impacto clínico da expressão gênica diferencial de METTL16 sobre as características e desfechos clínicos de pacientes com LMA. Metodologia: Para alcançar o objetivo, inicialmente foram utilizados os dados públicos das coortes LMA-TCGA (121 pacientes) e BeatAML (212 pacientes) como coorte de validação. Além destas, foi montada uma coorte de estudo (Coorte LMA-PE), com 157 pacientes provenientes da Fundação Hemope e Hospital do Câncer de Pernambuco. Os dados de expressão gênica das coortes públicas foram obtidos através da técnica de RNA-seq, enquanto que da coorte de estudo foram realizados pela técnica de RT-qPCR e os dados clínicos obtidos através da análise exploratória do prontuário clínico. A análise estatística foi realizada com o auxílio do RStudio, onde foram empregados os testes de Mann-Whitney e qui-quadrado para análises de associação, e o teste de Log-rank para a curva de sobrevida global (OS), sendo considerados significativos os resultados com p-valor < 0,05. A dicotomização da expressão gênica foi obtida através do cutpointR utilizando a expressão contínua em relação ao desfecho da OS. Resultados e discussão: Inicialmente, foram realizadas análises de OS, nas quais o teste de log-rank mostrou associação entre a alta expressão de METTL16 e um maior número de óbitos nas coortes LMA-PE (p-valor 0,025) e BeatAML (p-valor 0,002). Na coorte LMA-TCGA, o teste de qui-quadrado mostrou haver associação entre a classificação FAB e a expressão diferencial de METTL16 (p-valor < 0,001). A análise dos resíduos padronizados ajustados mostrou que há mais casos com baixa expressão no grupo M4 e alta expressão no grupo M2. Nessa mesma coorte, o teste Mann-Whitney mostrou associação entre o aumento no número de leucócitos totais e o grupo de baixa expressão gênica (p-valor 0,001). Contudo, nos pacientes do BeatAML, este mesmo teste estatístico apontou para uma associação entre os leucócitos totais e a alta expressão de METTL16 (p-valor 0,007). Prosseguindo com as análises nos dados do BeatAML, o teste de qui-quadrado mostrou uma associação entre a expressão gênica diferencial de METTL16 com o risco molecular (ELN2022) (p-valor 0,007) e o status mutacional in tandem do gene FLT3 (FLT3-ITD) (p-valor 0,003). A análise dos resíduos padronizados ajustados mostrou que na estratificação do risco molecular, o grupo intermediário apresentou mais casos com alta expressão do gene estudado, ao passo que, no fenótipo negativo para mutação FLT3-ITD há uma maior frequência de casos com baixa expressão, enquanto que no status positivo da mutação foi observado mais casos com alta expressão de METTL16. Na coorte LMA-PE, o teste Mann-Whitney mostrou uma associação entre o número de plaquetas e a baixa expressão do gene METTL16. As demais variáveis clínicas como: sexo, idade, percentual de blastos na medula óssea e status mutacional de NPM1, não apresentaram associação com a expressão gênica diferencial do gene estudado. Conclusão: Conforme já expresso na literatura, o METTL16 é um gene associado a diversos tipos de cânceres. Na LMA, ele foi descrito com potencial de promover a leucemogênese, tendo seu papel de oncogene condicionado à sua função enzimática. De modo geral, nossas análises mostraram resultados variados entre as coortes de pacientes estudados, indicando que METTL16 poder ser um potencial marcador prognóstico na LMA, mas que a descrição precisa de seu impacto clínico, requer estudos mais detalhados
ANÁLISE DO CONTEÚDO DE DNA MITOCONDRIAL (MTDNA) E SUA ASSOCIAÇÃO COM RESPOSTA A FÁRMACOS EM CÉLULAS DE LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA
Introdução/Objetivos: As leucemias mieloides agudas (LMA) são doenças complexas que afetam células precursoras do sangue na medula óssea. O metabolismo energético das células leucêmicas varia entre subtipos celulares, o que pode impactar a resposta ao tratamento. Dessa forma, este estudo tem por objetivo investigar se a redução do conteúdo de DNA mitocondrial (mtDNAc) pode influenciar o metabolismo energético mitocondrial e o tratamento de diferentes subtipos de LMA, dado que o aumento do número de cópias está associado a resistência a tratamentos em diversos tipos de câncer. Métodos: O estudo foi realizado no Núcleo de Hematologia Clínica e Laboratorial do Laboratório Central do Centro de Biociências da UFPE. Foram utilizadas células mononucleares de 47 pacientes com LMA, purificadas a partir de aspirados de medula óssea. Para reduzir o mtDNAc, um vetor de expressão lentiviral contendo um RNA de interferência (shRNA) foi usado para silenciar o gene da polimerase gama (POLG), essencial para a replicação do mtDNA. A lamivudina, um análogo sintético da pirimidina, também foi utilizada para inibir o DNA mitocondrial sem efeitos citotóxicos, validando o método em linhagens celulares OCI-AML3 (glicolítica) e MV4-11 (fosforilativa). A redução do mtDNAc foi confirmada por qPCR, e a apoptose foi avaliada após 24 horas de incubação com fármacos ou veículo. Para análises estatísticas, foi utilizada a correlação de Spearman para apoptose e mtDNAc. Em relação à análise de apoptose nas linhagens celulares, utilizou-se ANOVA, seguido do teste de comparações múltiplas de Sidak. Todos os P-valores foram bilaterais com nível de significância 0.05. Resultados: Inicialmente, as células mononucleares foram tratadas com citarabina (100 nM por 48 horas), revelando uma correlação inversa significativa entre a apoptose induzida pela citarabina e o nível de mtDNA nas células (p < 0.0001) (r = -075, 95% IC:-0.85 a -0.58). Amostras com elevado mtDNA foram selecionadas para análise aprofundada, confirmando a redução do mtDNA após o silenciamento por shRNA (p < 0.0001). A depleção do mtDNA resultou em maior apoptose nas células tratadas com citarabina (p < 0.0001). A investigação foi estendida para linhagens celulares (OCI-AML3 – glicolítica; MV4-11 – fosforilativa) com perfis metabólicos distintos, avaliando a concentração inibitória máxima (IC50) de vários fármacos (citarabina, venetoclax, metotrexato e metformina). As células OCI-AML3 mostraram sensibilidade à citarabina (p = 0.01), mas resistência a fármacos metabólicos, enquanto a redução do mtDNA com doses elevadas de venetoclax e metformina aumentou a apoptose (p < 0.0001). Na linhagem MV4-11, a lamivudina aumentou significativamente a apoptose em resposta a todos os fármacos testados (p < 0.0001), sugerindo um efeito sinérgico na eficácia dos tratamentos. Discussão e conclusões: : Os resultados indicam que a variação no conteúdo de mtDNA influencia o metabolismo energético das células leucêmicas, afetando a resistência à apoptose e a produção de energia. Dada a heterogeneidade da LMA, a eficácia do mtDNA como marcador terapêutico precisa ser considerada cuidadosamente. A interação entre o estado metabólico das células e a resposta à depleção do mtDNA destaca a necessidade de personalizar tratamentos farmacológicos para diferentes subtipos celulares. O mtDNA se mostra promissor como indicador para avaliar a eficácia terapêutica em pacientes com LMA
